segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Eu


Quando eu descobri que me amava, me descobri amando as pessoas em sua simplicidade. Eu estava curtindo as plantas daninhas que nasciam na roseira. Eu achava bonito sair pra fazer a feira e trocar miúdes com a mulher que me vendia abacaxi.
Nem sempre foi assim. Teve dias que eu rodava que nem barata tonta, e amava mais aos outros que a mim.
Eu nunca me convidei pra uma cerveja. Nesse tempo eu procurava poemas pra curar o amor por outras pessoas. Eu não conhecia Manoel de Barros, e como consequência eu não conhecia meu quintal, e nem sabia que ele também era o maior do mundo.
Quando  eu descobri que me amava, eu ganhei mais tempo pros amigos. Tem dias que passamos horas em silêncio, fazendo comidinhas e usando o vazio dos pensamentos afortunados.
Nem sempre foi assim. Eu não sabia que era errado pensar certo. Ninguém é tão certo e ninguém é tão errado. Eu achava que em alguma hora da minha vida eu ia receber título Doutor Honoris das causas impossíveis. Aí eu vi que a possibilidade é uma matemática de dois gumes. Eu tenho chances e a vida acontece. Nem sempre ela é boa pra mim, mas eu preciso ser o melhor dela!
Aí teve um dia que eu me conheci me reconhecendo em outra pessoa. E ela não me deu escolha: Ou eu amava a mim, ou ela não me amava. Aí eu compartilhei com ela o respeito por pessoas que descascava abacaxi todos os dias, compartilhei poemas, mas ela não entendia, e eu comecei a entender que os poemas eram meus, não dela. Compartilhei as comidinhas silenciosas, e os pensamentos vazios afortunados.

O amor me possibilita,
Amar, acontece.